Desde a criação, Deus desejou que vivêssemos
em harmonia nos relacionamentos interpessoais. Se analisarmos com cuidado, toda
a criação de Deus, cada dia termina com a expressão: “E viu Deus que era bom”
(Gn 1: 10,12,18,21 e 31), mas quando Deus cria o homem, pela primeira vez usa
outra expressão: “Não é bom”. Na análise de Deus sobre sua criação, tal
expressão se refere ao relacionamento do homem com seu semelhante. Deus vê que
o homem está só e condena essa solidão, e entra com sua providência para
resolver aquela dificuldade: “Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma
auxiliadora que lhe seja idônea.” (Gn 1:18). Assim, o Senhor resolve dar ao
homem a possibilidade de relacionar-se em família.
Hoje, a população do mundo tem crescido de
maneira assustadora. Grandes centros urbanos foram formados como resultado desse
crescimento, mas na mesma proporção
que cresce a população do mundo, aumenta a solidão das pessoas. Os grandes
centros urbanos fervilham de pessoas que se acotovelam todos os dias em imensas
aglomerações humanas, mas essas pessoas são rostos sem nome e sem identidade:
uns que vão, outros que vêm e todos que passam.
A grande vítima de tudo isso tem sido a família.
Criada para ser o berço dos relacionamentos saudáveis, a família se tornou o
lugar onde as pessoas vivem frustrações em seus relacionamentos interpessoais.
A TV, a internet, o celular e outras maravilhas da tecnologia, nos conecta com
o mundo lá fora, mas nos afasta daqueles que estão ao nosso redor. Na visão do
Rev. Hernandes Dias Lopes: “Vivemos no
paraíso das comunicações virtuais, mas transformamos esse jardim cheio de raras
belezas num deserto de relacionamentos vazios e carente de significado.
Transformamos o palácio da cibernética na masmorra da solidão.”
Filhos
são entretidos com presentes tecnológicos e são vistos como empecilhos para as
conquistas de seus pais. Esposas são
vítimas do silêncio de seus cônjuges e da falta de diálogo. Idosos são abandonados numa edícula qualquer,
e mesmo dentro de casa, jamais são inseridos nesse contexto cibernético. O
resultado: a sensação de abandono, cercados
de gente, e ao mesmo tempo, como uma ilha existencial; profundamente
solitários...
Mas a solidão não é algo
novo na humanidade. O anônimo salmista teve seu momento de solidão. Sentiu-se
abandonado por amigos, família e até por Deus: “Sou como o pelicano no deserto, como a coruja das
ruínas. Não durmo e sou como o passarinho solitário nos telhados.” (Sl 103:
6,7). Elias passou por esse caos isolado
em uma caverna (I Reis 19: 9 – 15).
Mas, se notarmos
bem, a mensagem bíblica, já previa esse caos da solidão, como uma praga que
atinge qualquer pessoa em qualquer época. O profeta Isaias, ao anunciar o
socorro de Deus a seu povo exilado e que se sentia abandonado, poderia ser
também chamado de “o profeta do socorro aos solitários” . Anuncia: “não temas,
porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te
fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel.” (41:10) ou
“Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não
se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer
dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti.” (49:15).
Deus nos ampara e
nos sustenta quando nos sentimos solitários. Essa era a convicção do salmista:
“se meu pai e minha mãe me desampararem, o SENHOR me acolherá.” (Sl 27:10).
Que o Espírito
Santo nos dê confiança e segurança de que temos um divino companheiro que é o socorro
dos solitários.
Rev. Ary Sérgio Abreu Mota