Desde tempos remotos indivíduos sinceros e cristãos sentiam a necessidade de uma correção na caminhada da Igreja Cristã a fim de evitar um desastre iminente na vida da igreja. A partir do século XI começou a surgir na Europa importantes movimentos de reação contra os abusos nos aspectos econômicos, políticos e morais da sociedade, como o abandono das massas pobres a sua própria sorte.
Dentre estes grupos destacaram-se os “cátaros”, cuja palavra significa “puro”, que atuaram no sul da França. Ainda na França apareceram os “albigenses” que foram duramente perseguidos. Os “valdenses”, liderados por Pedro Valdo. Os valdenses resistiram às perseguições e existem até hoje.
Alguns nomes se levantaram como precursores da reforma. Um deles foi John Wiclef que levantou um movimento para libertar a Inglaterra do domínio do papa. O outro nome é o de João Huss, reformador da Boêmia. Vista assim a Reforma foi um longo processo de reação contra os desvios da Igreja Romana e não simplesmente uma rebelião pessoal.
Teve também grande influência para o aparecimento da Reforma o movimento cultural do Renascimento nos fins do século XV, tendo como centro a Itália. O Renascimento favoreceu o desenvolvimento do Humanismo, movimento filosófico que procurava incentivar o desenvolvimento humano contra as restrições da religião medieval. A invenção da imprensa, que facilitou a circulação de Bíblias também muito ajudou ao movimento reformado.
A Reforma propriamente dita aconteceu nos primeiros anos do século XVI. A Alemanha era a parte da Europa mais preparada para a Reforma por motivos religiosos e políticos, causada pela transição entre a antiga sociedade feudal e a nova vida nas cidades conduzida pela economia capitalista, por meio da qual a Igreja possuía a maior parte das terras cultiváveis. Neste ambiente apareceu Martinho Lutero (l483–1546), que, quando estudante de direito passou por uma experiência religiosa que mudou o rumo da sua vida e muito se influenciou pelas pregações sobre a necessidade de reforma na religião e na igreja. Mas foi na Carta aos Romanos que ele encontrou a solução para a sua angústia: “O justo viverá por fé”. Era comum em seu tempo a pregação da indulgência que oferecia perdão do castigo temporal do pecado. A indulgência era vendida por dinheiro para sustentar o luxo da igreja. Lutero assumiu a oposição contra o exagero desta prática e no dia 31 de outubro de 1517 fixou na porta da igreja de Wittenberg suas noventa e cinco declarações contra as indulgências. A Reforma então, foi a tentativa de uma reforma da Igreja com base exclusiva nas Escrituras. A partir do movimento de Lutero na Alemanha, a Reforma se espalhou pela Europa e daí aos outros continentes, sendo atualmente representada por um grande número de igrejas. (Dados colhidos do texto do Rev. Dr. . Antônio Gouvêia de Mendonça, sobre as Raízes da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.).
Podemos resumir o pensamento reformado em cinco pontos principais:
1. Sola Scriptura – Somente as Escrituras – Os reformadores reafirmaram a supremacia das Escrituras sobre a tradição.
2. Sola Fide – Somente a Fé – A Reforma sublinhava também a supremacia da fé sobre as obras para a salvação. A salvação não é mérito humano, conquistado pela prática de boas obras, mas é obra de Deus, recebida de graça pelo homem mediante a fé em Cristo.
3. Sola Gratia – Somente a Graça – Os reformadores reafirmaram a doutrina apostólica de que somos salvos pela graça. A graça é um dom imerecido de Deus a nós. O salário do pecado é a morte. Merecemos o juízo, a condenação, o inferno, mas Deus, pela sua infinita misericórdia, suspende o castigo que merecíamos e nos dá a salvação, que não merecemos. Isso é graça!
4. Solo Christu – Somente Cristo – Os reformadores rejeitaram absolutamente a autoridade do papa sobre a igreja. O papa usurpa o lugar da Trindade. Ele usurpa o lugar de Deus Pai ao ser chamado de Pai da Igreja (Mt 23:9). Ele usurpa o lugar de Deus Filho ao ser chamado Sumo Pontífice (Supremo Mediador). A Bíblia diz que há um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo (1 Tm 2:5). Ele ainda usurpa o lugar de Cristo quando ele se auto-intitula a pedra fundamental da igreja sobre a qual a igreja foi edificada.
5 - Soli Deo Gloria – Somente a Deus a Glória – O movimento da Reforma reafirmou a doutrina bíblica de que Deus não reparte sua glória com ninguém. Somente ele deve ser adorado e honrado. Toda glória que é dada ao homem é vanglória, é glória vazia.
Desta forma, vemos que o pensamento da reforma nos remeteu às escrituras e esta a Cristo. Contudo o espírito da reforma deve continuar em nosso coração pois ainda hoje a igreja necessita reformar sua estrutura, sua teologia, sua formação teológica e pastoral, sua visão missionária e seu entusiasmo pela fé cristã. Por isso, os reformadores nos desafiaram com a máxima: Igreja Reformada, sempre Reformando.
Soli Deo Gloria.
Rev. Ary Sérgio Abreu Mota
